sexta-feira, 26 de julho de 2013

Dois documentos sobre o uso da capa e batina no Porto em 1929 e 1930

Interrompo o longo silêncio neste blogue para dar a conhecer dois interessantes documentos sobre o uso da capa e batina na passagem dos anos 20 para os anos 30 que encontrei nos últimos meses.

Começo por uma fotografia retirada da revista brasileira Lusitania ("revista illustrada de approximação Luso-Brasileira e de propaganda de Portugal"), n.º 36, de 16 de Julho de 1930. A fotografia aparece inserida numa reportagem fotográfica, por José Mesquita, sobre uma iniciativa de caridade realizada no Porto, a "Venda da Flor". Aí vêem-se dois estudantes de capa e batina (clicar para ampliar a imagem, de forma a distinguir o estudante em segundo plano, com a capa no ombro direito). Na respectiva legenda lê-se "Maria Thereza, odorifero cravo dos jardins do Porto, “cravando” um pobre academico".

O que tem esta fotografia de fora do comum? Simplesmente, e não é pouco, a espontaneidade.
A esmagadora maioria das fotografias antigas em que aparecem estudantes do Porto de capa e batina são fotografias de pose: retratos tirados em estúdios fotográficos, fotos de curso ("os quintanistas de Medicina do ano x"), fotografias institucionais da tuna ou orfeão; na melhor das hipóteses, temos fotos tiradas durante alguma excursão ou digressão de um grupo académico. Por muito interessantes que sejam, as fotos de pose transmitem pouca informação sobre o uso quotidiano do traje académico.
Na foto apresentada aqui, pelo contrário, vemos dois estudantes surpreendidos em plena baixa, possivelmente a caminho ou à saída das aulas, usando o traje académico de forma descontraída. Capa ao ombro num caso, segura no antebraço no outro. O estudante em primeiro plano traz uma boina[1].

O segundo documento é uma verdadeira preciosidade.
Trata-se de um filme, preservado na Cinemateca Portuguesa, sobre uma excursão de alunos do Liceu Alexandre Herculano em 1929. (Clicar para abrir a página da Cinemateca com o filme; não consegui encaixar ["embed"] directamente o vídeo.)
Duas notas: o filme parece montado aleatoriamente, e não por ordem cronológica; um mapa com as localidades visitadas pode ser visto aos 9m34s.
De realçar a grande implantação da capa e batina no Liceu Alexandre Herculano nesta época.
Quanto aos pormenores no seu uso que fogem aos cânones praxísticos do séc. XXI, dariam panos para mangas...






[1] Embora possa ser surpreendente para alguns, não é inédito - conheço fotografias de uma excursão da Tuna em 1932 em que um dos elementos usa boina; e o antigo dux veteranorum Flávio Serzedello contou-me em conversa nos anos 90 que no seu tempo (anos 40 a 60) havia no Porto quem usasse boina com capa e batina - ao contrário do gorro, que não era usado.