quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Sobre as latadas e o uso de insígnias

Em Outubro e Novembro passados apareceu no blogue Penedo da Saudade, do antigo estudante de Coimbra (e do Porto) Zé Veloso, um texto sob o título genérico Das Latadas à Festa das Latas, fazendo uma pequena história do costume coimbrão das latadas. O autor dividiu-o em duas partes, aliás bastante naturais:
Parte I: As latadas do final do ano lectivo. A emancipação dos caloiros
Parte II: As latadas do início do ano lectivo. A imposição de insígnias

A relevância particular da história das tradições académicas coimbrãs para quem se interessa essencialmente pelas tradições académicas portuenses costuma ser óbvia: uma grande parte dessas tradições académicas surgiu em Coimbra ou aí tomou uma forma muito próxima da que mais tarde seria assumida no Porto.
Mas este caso é diferente. A leitura do texto de Zé Veloso, principalmente da parte II, é recomendável aos académicos do Porto, não para que se informem sobre a origem das latadas que realizam, mas para que se apercebam das diferenças fundamentais entre a tradição coimbrã das latadas e o costume portuense que usa o mesmo nome.

Não vou resumir o texto de Zé Veloso. As ligações estão aí em cima e o leitor está convidado a lê-lo. Saliento apenas algumas características das latadas nos anos 40, 50 e 60 do séc. XX: quase total ausência de latas; cortejo constituído pelos grelados e fitados de uma faculdade (tendencialmente todos), que mobilizam caloiros pertencentes a quaisquer faculdades, não necessariamente à da latada, mascarados, muitos transportando cartazes com piadas (frequentemente políticas). Muito longe de um cortejo constituído pelos caloiros de uma faculdade (ou da "academia", mas organizados por faculdade), obrigatoriamente com latas, com doutores (não necessariamente grelados ou fitados) que acompanham e controlam, mas não constituem o cortejo.

Mas então qual é a história das latadas do Porto?
Antes dos anos 80, esta história é muito simples de contar: não havia latadas no Porto.
Em 1982 é publicado o livro Quid Praxis? (Portucalensis), de Manuel Cabral e Rui Marrana (um livro que tenta ser sobre a Praxe Académica portuense mas recorre quase exclusivamente a bibliografia coimbrã - na verdade os autores vão caracterizando a praxe de Coimbra e usando pouco mais do que a sua opinião pessoal e a sua experiência de três anos de "restauração" das tradições académicas no Porto para decidir o que se aplica, e como, a esta cidade). Às latadas, é dedicada meia página (dois parágrafos e uma pequena nota de rodapé), na secção "Outras iniciativas académicas" (pág. 91) - incluindo a referência importante de que este hábito "nunca atingiu o Porto".
No ano seguinte aparece um chamado Projecto de Código da Praxe Académica do Porto, dos veteranos de Engenharia José António Balau e Augusto Henrique Soromenho - cópia com poucas adaptações (e mal feitas) do Código da Praxe Académica de Coimbra de 1957. Os artigos que mencionam as latadas são simplesmente copiados, como se correspondessem a tradições portuenses, com adaptações cosméticas; por exemplo:
Codigo da Praxe de Coimbra, art. 258.º
As insígnias que irão usar-se no decurso do ano lectivo são postas no dia da latada ou cortejo respectivo às 10 horas da manhã.
A latada dum ano ou curso só pode efectuar-se depois de terminados os exames da sua época de Outubro e terá lugar em dia combinado entre todos.
Projecto de Código da Praxe do Porto, art. 256º
As insígnias que se irão usar no decurso do ano lectivo são postas no dia da Latada ou Cortejo respectivo às 10 horas da manhã.
A Latada dum ano ou curso só pode efectuar-se depois de terminados os exames da sua época de Outubro e terá lugar em dia combinado entre todos ou segundo data indicada pelo C.V.F. [Conselho de Veteranos de Faculdade] respectivo.

Codigo da Praxe de Coimbra, art. 266.º
A mesma espécie de insígnias pessoais só pode ser usada no dia do Cortejo da Queima das Fitas, no dia seguinte a este e durante um ano lectivo, a partir do dia da latada da respectiva Faculdade até à hora do toque matutino da Cabra no dia do Cortejo da Queima das Fitas.
§ 1.º Os que se apresentem a exame final de licenciatura podem usar as fitas tantas vezes quantas as que se apresentarem a exame.
§ 2.º O que ao fim de 5 anos ainda não se tenha licenciado pode voltar a usar fitas durante mais um ano lectivo.
Projecto de Código da Praxe do Porto, art. 265º
A mesma espécie de insígnias pessoais só pode ser usada no dia do Cortejo da Queima das Fitas, no dia seguinte a este e durante um ano lectivo, a partir do dia da Latada da respectiva Faculdade até ao dia do Cortejo da Queima das Fitas.
§ Único - Os que se apresentem a exame final de licenciatura podem usar as fitas tantas vezes quantas as que se apresentarem a exame.
[Este segundo exemplo é particularmente chocante por ignorar a estrutura tradicional da Queima das Fitas do Porto. Na Queima das Fitas de Coimbra, as novas insígnias começam-se a usar ("vão-se buscar") no dia do Cortejo, que tradicionalmente é (ou era, até recentemente) o penúltimo; na Queima do Porto, as novas insígnias começam-se a usar na Imposição de Insígnias, que acontece no início da semana - nos anos 50 e 60 acontecia na segunda-feira, segundo dia da Queima; a partir dos anos 80 acontece no domingo, primeiro dia da Queima - e usam-se durante todo o resto da semana - não apenas dois dias, e se fossem apenas dois esses dias não seriam o do Cortejo e o seguinte, esquecendo o dia da Imposição!]

Assim, não foi antes de 1982, e foi provavelmente em 1983 ou pouco depois, que se começaram a realizar latadas no Porto - mas foram rapidamente encaradas como "tradicionais", ou praxisticamente importantes, por via de uma codificação despropositada.
O formato adoptado parece ter sido improvisado com base em referências lidas na diagonal, misturando elementos de épocas diferentes de Coimbra - cortejo de caloiros com latas, como nas latadas antigas de fim de ano em Coimbra, com certeza conhecidas de alguns pelo menos através da referência no In Illo Tempore de Trindade Coelho; calendarização no início do ano lectivo, como nas latadas de imposição de insígnias dos anos 40 a 60, referidas no Código da Praxe (e sua cópia portuense). Os cartazes com piadas não foram adoptados; raramente os caloiros foram caracterizados, e ainda mais raramente essas caracterizações foram além do mais básico. Tratava-se essencialmente dum pretexto para passear os caloiros pelo centro da cidade ("apresentar os caloiros ao Porto") fazendo o máximo de barulho possível.
Por outro lado, surgiu um elemento novo (ou que, em Coimbra, não é anterior aos anos 80): a associação, em muitas faculdades, ao baptismo dos caloiros. Não tendo dados seguros, devo dizer que sempre me pareceu que esta associação se devia a factores práticos: os caloiros devem ser baptizados na Fonte dos Leões e, para as faculdades longe do centro, a latada fornece uma excelente oportunidade de passagem pela Fonte; diga-se que na Faculdade de Ciências nunca houve tal associação (pelo menos antes do séc XXI, ou seja, enquanto a faculdade esteve no seu edifício histórico, na Praça dos Leões) - os caloiros eram baptizados não na latada mas a seguir ao julgamento do seu curso (o que, por outro lado, evoca os "baptismos" do Orfeão dos anos 40, 50 e 60 - meio julgamentos e meio baptismos; mas essa é outra história).

Quando eu fui caloiro (1989/90) as latadas estavam já firmemente implantadas, nos moldes descritos acima. Tipicamente, cada faculdade realizava a sua latada, durante a sua Recepção ao Caloiro (ou seja, nas duas ou três primeiras semanas de aulas; era muito raro praxarem-se caloiros depois disso); e mais tarde havia uma latada da "academia" integrada na Recepção ao Caloiro organizada pela FAP (que se realizava na segunda metade de Novembro).

O que era muito ténue era a associação ao uso de insígnias. Ao contrário das latadas de imposição de insígnias de Coimbra dos anos 40, 50 e 60, nunca as latadas do Porto foram cortejos de novos fitados e novos grelados - nem "novos nabiçados" e "novos sementados"(?).
No entanto, havia quem insistisse em fazer a associação. Lembro-me de ter várias discussões com "engenheiros" que insistiam que as insígnias só se deviam usar a partir da latada. E qual latada: a da faculdade respectiva ou a da "academia"? Em princípio, seria mais lógico usar o critério de uma latada que englobava todas as faculdades; mas isso significaria usar insígnias só a partir do fim de Novembro. Para esses engenheiros (ou pelo menos alguns deles) este não era um problema; antes pelo contrário - era até positivo que, enquanto estivessem a ser praxados, os caloiros não distinguissem a hierarquia dos doutores (o que não os impedia de defender que os veteranos se distinguissem usando capa à futrica como se fossem antigos estudantes...).
E mesmo que a latada escolhida fosse a da faculdade, usá-la como marco de início do uso de insígnias não seria atribuir uma importância excessiva a um costume recente no Porto? (Na altura dessas discussões, uma década ou pouco mais.)
[Adenda, 1/3/2012: lembrei-me de consultar o Código da Praxe de Engenharia, de 1994 - adaptação piorada do Projecto de Código da Praxe do Porto de 1983. E verifiquei que, segundo esse código, "Não pode exercer praxe quem usar Insígnias visíveis" (art. 135º) - regra estranha e que contradiz pelo menos as regras sobre os julgamentos (as fitas dos membros do júri e o grelo do promotor de justiça devem estar visíveis nas respectivas mesas). Verifiquei também (art. 469º) que pelo menos a partir dessa altura o critério de Engenharia para o início do uso de insígnias em cada ano lectivo não era o dia da Latada, e sim o da Serenata da Recepção ao Caloiro (não sendo claro qual - de Engenharia ou da "academia"?). Mas o pior é o resto (v. nota [1]).]

Aí por 1994 o Conselho de Veteranos de Ciências, a que eu pertencia, debruçou-se sobre o assunto. Afinal, em que altura precisa do início do ano lectivo se devia começar a usar as insígnias? Dois pontos prévios:
  1. O problema coloca-se efectivamente, devido à antecipação das insígnias na Queima e à incerteza sobre a passagem de ano. As fitas (por exemplo) são a insígnia do último ano do curso. Impõem-se na Queima do penúltimo ano por antecipação, mas não devem ser usadas depois de terminada a Queima, antes de se ter a certeza de ter passado de ano (e se não se passa de ano não se usam!). Daí o critério coimbrão de a latada não poder ser realizada antes de terminados os exames da época de Outubro (isto é, da época de recurso).[1]
  2. A questão extravasava claramente as competências do Conselho de Veteranos de Ciências (ou do Conselho de Veteranos de qualquer faculdade). Deveria ser tratada pelo Magno Conselho de Veteranos - desde que este funcionasse correctamente. Mas nós conhecíamos o Magno Conselho de Veteranos que existia na prática, o seu modo de funcionamento e o seu bom senso... E, como noutras situações, resolvemos analisar a questão, interpretando a tradição (e não adoptando uma solução qualquer de que nos lembrássemos) e tomando uma decisão que, evidentemente, seria vinculativa apenas no âmbito da Faculdade de Ciências.
Um dos primeiros passos foi consultar alguém a quem muitas vezes colocava dúvidas: um grande académico e praxista dos anos 50 e 60, dux veteranorum nos anos 60, Flávio Serzedello de Oliveira. A resposta que obtive foi que, na sua época, o momento que marcava o início do uso de insígnias era a Abertura Solene do Ano Lectivo da UP; e que esta se realizava, de facto, no início do ano lectivo.[2] Acontece que, nos anos 90, a UP já não realizava uma Abertura Solene do Ano Lectivo.
Assim, decidimos que, à falta de uma Abertura Solene, devíamos considerar o início oficial do ano lectivo: as insígnias poderiam usar-se a partir do primeiro dia de aulas no calendário oficial.[3] Claro que nunca deixámos de realizar a latada (nos moldes portuenses) na Recepção ao Caloiro da Faculdade de Ciências. Mas sem lhe dar um peso praxístico exagerado.





[1] Esta explicação não deveria ser necessária. Mas lembro-me dum detalhe tristemente anedótico numa das discussões que tive nos anos 90 sobre o assunto: um "engenheiro" assegurava-me que o não uso de insígnias entre a Queima e a latada era um sinal de luto pelo dux veteranorum Augusto Soromenho, falecido em 1989...
[Adenda, 1/3/2012: Afinal, este disparate foi consagrado no Código da Praxe de Engenharia (ou talvez tenha tido aí origem?). Diz o art. 469º que as insígnias "deverão ser recolhidas a partir do fim da Queima até às 21 horas e 59 minutos do dia da Serenata da Recepção ao caloiro, do ano lectivo seguinte, isto em memória do falecido Dux Veteranorum Augustus Soromenhus". Patético...]

[2] Curiosamente, segundo informação de António M. Nunes, em Coimbra "tradicionalmente [antes dos anos 40] os estudantes deitavam fitas e grelos no dia da abertura solene das aulas".

[3] Note-se que a nossa época de recurso acabava sempre antes do início das aulas. A nota de um ou outro exame demoraria mais a sair, mas...

7 comentários:

  1. Já há muito defendo que a imposição de insígnias deveria ser feita no princípio do ano lectivo.

    Caso excepcional seria o dos finalistas, que teriam duas cerimónias (considerando para efeitos de debate a cartola como insígnia): uma no início do ano para imposição das fitas; outra no final, para queima das fitas e imposição da cartola.

    Nunca me pareceu lógico que um militar (a título de exemplo) usasse as divisas do posto superior antes de ser promovido... nem isto faz sentido. A que propósito é que se recebe a insígnia de finalista antes de o ser?... Confesso que me faz confusão.

    Em conversa com "engenheiros" foi-me replicado que "assim, não haveria fitas no cortejo..." - e?... Não se chama "Queima das Fitas"? As fitas não são para ser queimadas?...

    Mais uma oportuna reflexão, meu caro João. Mais uma dívida de gratidão que os académicos do Porto passam a ter para contigo.

    Forte abraço!

    Eduardo

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  2. Caro Eduardo,
    Obrigado pelo teu comentário.

    A ideia de transferir a imposição de insígnias para o início do ano lectivo faz sentido e resolveria vários problemas, mas... confesso que o tradicionalista que há em mim até se arrepia com a ideia. Desde o início do séc. XX que quer a Queima das Fitas de Coimbra quer a Festa da Pasta/Queima das Fitas do Porto se baseiam na ideia de antecipação: os finalistas usam cartola antecipando caricaturalmente a condição de burgueses; os pré-finalistas usam fitas antecipando a condição de finalistas; etc. É uma ideia com inconvenientes mas é _a_ ideia da Queima das Fitas.

    O que é preciso fazer é tentar minorar os inconvenientes. Por exemplo, cumprindo à risca a regra de que entre a Queima das Fitas e o início do ano lectivo seguinte _não_há_praxe_; é claro que se tivermos um Magno Conselho de Veteranos a querer marcar julgamentos para Junho (com que fitados a presidir e que grelados a acusar?) ou duxes a quererem marcar "jantares de praxe" para Julho, as confusões são inevitáveis; mas na praxe académica tradicional (ao contrário do que é possível no mundo militar) existe esse intervalo, esse tempo vazio dedicado aos exames. E, claro, seguindo também à risca a regra de que quem impõe grelo ou fitas na Queima mas depois reprova, no ano lectivo seguinte _não_usa_insígnia_nenhuma_ (o que também não é possível no mundo militar).

    Já agora: as fitas (largas, de finalistas) não são para ser queimadas. As fitas que se queimam são as fitas estreitas = grelos.

    Grande abraço,
    João

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  3. Eduardo,
    Como já te tinha dito, creio que és contemporâneo das primeiras latadas no Porto. Imagino que no teu ano de caloiro ainda não tenha havido, mas que tenham começado pouco depois? Tens ideia disso? Na altura haveria gente que pensava estar a retomar alguma coisa?
    Abraço,
    João

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  4. Meu caro João:

    a ideia que tenho é que são efectivamente as "fitas largas" que se queimam, pelo menos a "ponta" para que não desfiassem. É a ideia com que fiquei, que pode em todo o caso estar errada.

    Quanto à latada, efectivamente não me lembro. Durante os dois primeiros anos de universidade, como trabalhava na Póvoa, não acompanhei de perto a vivência académica. Só a partir de 86 é que comecei a meter-me mais nesses meandros.

    Não tenho ideia, sinceramente, de nessa altura se "andar às apalpadelas". Para mim, a primeira latada a que se assisti era um ritual antiquíssimo :) Vejo agora que não, como porventura muitas coisas do "meu tempo". Faz-me lembrar o fulano que dizia "É um provérbio muito antigo que acabei de inventar".

    Às tantas, a primeira latada a que assisti foi mesmo a primeira latada do Porto, mas não posso garantir. Foi uma coisa muito mal amanhada, com meia dúzia de faculdades e talvez uns 200/300 caloiros e doutores. Começou nos Leões, deu a volta à Praça da Liberdade e regressou aos Leões, com 500 metros de intervalo entre cada faculdade, talvez para dar a impressão de que era uma coisa muito grande.

    As seguintes foram já muito mais participadas. Especialmente na memória tenho uma Latada em que o curso de Engenharia Electrotécnica se fez acompanhar de um burro - vivo -, que fez baptizar nos Leões com o nome de "Magnum", juntamente com todos os caloiros do curso.

    Forte abraço,

    Eduardo

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  5. Caro Eduardo,

    Sobre que fitas se queimam:
    Lê o que escrevi há um ano sobre as origens da(s) Queima(s) das Fitas
    http://portoacademico.blogspot.com/2011/02/quando-foi-primeira-queima-das-fitas.html
    particularmente a secção Como e quando surgiu a Queima das Fitas de Coimbra?
    e em especial a nota de rodapé 6
    http://portoacademico.blogspot.com/2011/02/quando-foi-primeira-queima-das-fitas.html#1aQueimafn6
    E para o caso de pensares que se trata de uma diferença entre Coimbra e Porto, lê este relato
    http://arquivo-digital.up.pt/Arq_Notic/showrecord.php?cod_noticia=AN2-N3
    Já agora, vê o que fazem em Coimbra
    http://www.youtube.com/watch?v=17aiFubxXVY

    É claro que a origem da confusão está na expressão "queima das fitas", que é mais antiga do que o nome "grelo" para a fita estreita. Curiosamente, em Coimbra a festa chama-se Queima das Fitas mas a cerimónia de queima (que é na manhã do dia do cortejo) chama-se "Queima do Grelo".

    Não tenho dúvidas de que no Porto a confusão levou a que muitas vezes se fizesse queima das fitas largas em vez do grelo. (Não sei é se essa confusão alguma vez aconteceu antes dos anos 70, ou se só começou nos anos 80.) Como já disse em
    http://portoacademico.blogspot.com/2011/12/apontamentos-sobre-imposicao-de.html
    vi em Ciências, em anos diferentes, quer queima do grelo quer queima das fitas largas. Admito que em algumas faculdades a queima das fitas largas tenha prevalecido, tornando-se "tradição local". Mas que se trata de uma confusão, trata.

    Devo dizer que me parece que uma das causas da confusão está na falta de importância que a queima do grelo (ou das fitas largas...) tem no Porto. O que no Porto tem verdadeiro peso simbólico (e muito mais tradição) é a passagem de testemunho - a imposição de uma insígnia pelo padrinho.

    Por causa da confusão e da relativa falta de importância, defendi nos anos 90 que se abandonasse definitivamente em Ciências a cerimónia de queima (não a festa Queima das Fitas!). Não era uma tradição bem estabelecida, trazia confusão e ninguém lhe dava muita importância. Abandonou-se e não me lembro de alguém se queixar.

    E o nome "Queima das Fitas"? Na minha opinião foi um erro nos anos 40 a adopção desse nome em vez do tradicional (portuense) "Festa da Pasta". Trata-se de um caso de cópia de Coimbra perfeitamente evitável. Mas enfim, já lá vão quase 70 anos... já não há nada a fazer.

    Grande abraço,
    João

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  6. Em Letras nem sequer me lembro de se queimar fosse o que fosse - a não ser pestanas e fígados :)

    Todos os dias se aprende, é bem verdade. A ideia que eu tinha é a de que o grelo é bem mais recente do que as fitas-fitas, nem creio que em Coimbra (séc. XIX) as pastas dos finalistas tivessem grelos...

    Enfim. É o que é e contra isso... batatas.

    Aquele abraço, meu caro João.

    Eduardo

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  7. Avisar que inseri duas adendas, a propósito de ter consultado o Código da Praxe de Engenharia.
    E nem sei como comentar. É triste.

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