segunda-feira, 14 de junho de 2010

O Traje Académico em Coimbra
I - O Antigo Regime

Ao contrário do que possa pensar-se, a Universidade de Coimbra-Lisboa[1] não teve um uniforme instituído desde o princípio, nem para os estudantes, nem para os professores. Não significa isto, no entanto, que o seu vestuário não estivesse regulamentado, antes pelo contrário. Na Idade Média, e em parte até ao Liberalismo, o peso do gosto individual na forma de vestir era muito menor do que actualmente: a indumentária devia reflectir claramente o lugar de cada indivíduo na ordem social.[2] Assim, o vestuário dos elementos da Corporação Universitária tinha que espelhar de alguma forma a pertença a essa corporação. Havia, por um lado, diversas limitações oficiais a esse vestuário, de forma a torná-lo sóbrio, decente, e a impedir que colidisse com os privilégios e características próprias dos trajes de outros elementos da sociedade (certas cores e certos tecidos, por exemplo, estavam reservados a determinados estatutos sociais).

Nos Estatutos de 1431, D. João I mandou que
"magistri et doctores euntes ad legendum vel ad quoscunque allios actus scollasticos vel per modum universsi incedant in aparatu in generali sive doctoralli et legentes licenciati et bachalarii in habitu honesto ad minus tallari et ceteri scollares honesti saltim usque ad mediam tibiam";[3]
("os mestres e doutores indo a leccionar ou a quaisquer outros actos escolares ou [que estejam] dentro dos limites da universidade andem em aparato geral ou doutoral e os lentes [i. e., docentes] licenciados ou bacharéis em hábito honesto ao menos talar [i. e., até aos tornozelos] e os outros escolares [em hábitos?] honestos, pelo menos até à meia perna.")[4]

D. Manuel I, por volta de 1503,
"que os escolares [...] andem honestamente vestidos e calçados, scilicet [isto é] não tragam pelotes, nem capuzes, nem barretes, nem gibões vermelhos nem amarelos nem verde-gaio, nem cintos lavrados de ouro";[5]

D. João III, na Ordenança para os estudantes da Universidade de Coimbra, de 1539:
"[...] toda pessoa de qualquer qualidade e condição que seja que por bem de minha ordenação da defesa das sedas a pode trazer [...] a não possa trazer [...] enquanto na dita universidade estudar [...]
Nem poderão os sobreditos nem outros alguns estudantes trazer barras nem debruns de pano em vestido algum.
Nem isso mesmo poderão trazer vestido algum de pano frisado.
Nem poderão trazer barretes doutra feição senão redondos.
E assim hei por bem que os pelotes e aljubetas que houverem de trazer sejam de comprido três dedos abaixo do joelho ao menos.
E assim não poderão trazer capas algumas de capelo; somente poderão trazer lobas abertas ou cerradas; ou mantéus sem capelo.
Item não trarão golpes nem entretalhos nas calças. Nem trarão lavor branco; nem de cor alguma em camisas nem lenços";[6]

e D. João IV, nos Estatutos de 1653 (chamados Estatutos Velhos):
"1º-Os estudantes andarão honestamente vestidos, sem seda alguma: mas poderão trazer os chapéus e barretes forrados, e colares dos mantéus e guarnições de sotainas por dentro: e nas camisas não trarão abanos, senão colares chãos sem feitio de rendas, nem bicos, nem trancinhas, nem de outras guarnições semelhantes, sob pena de dous mil reais, pagos da cadeia, a metade para a Confraria, e a outra para quem o acusar. E não trarão em nenhum vestido de sotaina, calças ou pelotes, as cores aqui declaradas: amarelo, vermelho, encarnado, verde, laranjado, sob pena de perderem os ditos vestidos [...] E porém debaixo das sotainas poderão trazer gibões, ou jaquetas de panos de cores, para sua saúde: contanto que os colares não sejam mais altos que os das sotainas, nem as mangas mais compridas: e poderão outrossim, debaixo das botas ou borzeguins trazer meias calças de cores bem cobertas: e em casa, ou pelas ruas, onde pousarem, poderão trazer roupões de cores, contanto que não sejam das acima proibidas [...]
2º-Não poderão trazer barretes de outra feição, senão redondos, ou de cantos; nem carapuças, senão os que trouxerem dó, no tempo limitado, ou pelas pessoas que o podem trazer [...] E os mantéus, que houverem de trazer, serão compridos, ao menos até ao artelho.
3º-Não trarão capas de capelo cerrado, e trarão mantéus de colar ou de capelos abertos. Porém os criados de estudantes poderão ir ouvir às Escolas com pelotes e ferragoulos, e chapéus, e colares de abanos nas camisas, chãos, que não passem de dous dedos. E os estudantes pobres poderão trazer o mesmo trajo: tirando os colares das camisas de abanos.
4º-Não trarão golpes, nem entretalhos que se vejam em algum vestido, nem piques, golpes, botões ou fitas em botas, ou sapatos [...]".[7]

Por outro lado, a Universidade estava intimamente ligada à Igreja, era efectivamente uma instituição eclesiástica, e uma grande parte dos estudantes e mestres eram clérigos. É pois natural que os universitários adoptassem uma maneira de vestir eclesiástica. António Nunes (em "Subsídio...", págs. 405-406) dá-nos uma caracterização do vestuário dos estudantes de Coimbra nos séculos XVI e XVII:
"Loba ou Sotaina, decorada à frente, de alto a baixo, com uma fileira de pequenos botões, abotoada pelas costas com botões ou cordeis, a qual descia até à meia perna; uma Capa com gola e alamares ou cordão de borlas; um Barrete arredondado ou de cantos; Calção sem entretalhos ou golpes, meias e Botas ou Borzeguins. Os estudantes colegiais [8] traziam os Hábitos das respectivas Ordens, salvo os dos Colégios seculares de S. Pedro e S. Paulo que tinham um Hábito semelhante aos escolares colegiais de Salamanca [...]. Este Trajo usado nas Faculdades também era extensivo aos Lentes, ressalvando-se apenas o pormenor de a Sotaina dos Mestres chegar ao calcanhar, enquanto a do estudante chegava à meia perna. Através dos Estatutos de 1653, dados por D. João IV, ficamos a saber que nesta época ainda se usavam barretes redondos ou de cantos para cobrir a cabeça e não o Gorro comprido, o qual se começou a trazer mais tarde, talvez nos começos do século XVIII. Estes Estatutos conferem ao estudante liberdade para trazer debaixo da Batina coletes e camisas, só mais tarde se tornando obrigatório o costume de envergar Volta Branca e Cabeção Negro [...]."

As lobas dos colégios eram de cores variadas (dentre as que não eram proibidas, claro): em Todos os Santos usavam o pardo, em S. Miguel roxo escuro, em S. Paulo castanho escuro, etc. Mas o preto viria a dominar.[9]

Pormenor de uma gravura holandesa (de George Braun & Franz Hogenborg) de 1572, sobre Coimbra. Parece representar dois escolares – estudantes ou professores. Será o único documento iconográfico sobre o traje académico de Coimbra no século XVI. (Extraído de António Correia, “Subsídios para o estudo do trajo dos estudantes de Coimbra”, Rua Larga, n.º 5 (16/10/1957), pág. 133).

Desta forma, no seu início, o objectivo principal do Traje Académico, não era, como muitas vezes se diz, igualizar os estudantes, mas antes fazer distinguir os académicos na sociedade.[10] A igualização entre estudantes acontecia (até certo ponto) porque, vindo estes de estatutos sociais (isto é, lugares na sociedade) diversificados, deviam convergir na posição académica.

Apesar da falta de uniformização, os estudantes eram obrigados a usar alguma forma de traje académico.[11] De notar que essa obrigatoriedade era permanente, nas aulas ou fora delas, dentro da cidade de Coimbra (território académico).[12]

É possível que no início do século XVIII a maioria dos estudantes (não colegiais) já tivesse convergido para uma mesma forma de traje académico - embora essa forma estivesse dependente de flutuações de moda. Isto é o que se depreende de uma passagem de António Ribeiro Sanches, estudante em Coimbra de 1716 a 1719, nos "Apontamentos para fundar-se uma Universidade Real" (1761):
"até o ano 1718, o vestido dos estudantes da Universidade de Coimbra era uma loba de baeta com capa, que custava 7200 r. até 9600 r. Neste ano veio de Lisboa a moda da abatina, e vem a custar este vestido de crepe ou de pano de 25000 r. até 30000 r."[13]
Qual a diferença entre a loba com capa e a abatina? Segundo o Vocabulario Portuguez e Latino (10 vols., 1712-1728) do P. Rafael Bluteau, a loba era uma
"Vestidura eclesiástica, clerical e honorífica, que chega até o chão, cortada de maneira que nela entram os braços; dela usam também os bedeis da Universidade [...]"
e
"Andar à Abatina. É andar no trajo dos abades seculares de França ou de Itália, com vestido de seda negra, capa curta, volta singela e cabeleira pequena."[14]
Estas descrições não serão muito esclarecedoras, mas parecem sugerir: 1 - que a loba seria mais comprida, mas a abatina de tecido mais caro; 2 - que a abatina foi inicialmente uma moda de influência estrangeira, e mais precisamente de além-Pirinéus. Note-se além disso que a abatina não era uma peça de vestuário, mas sim uma forma de vestir, que incluía uma capa e um vestido que mais tarde se chamaria túnica; ainda mais tarde, esta túnica chamar-se-ia "batina", por simplificação de "abatina".

Segundo António Nunes,
"a loba era uma veste acentuadamente comprida, constituída por dois corpos sobrepostos [...]
A sotaina interna, ou veste talar de baixo, comporta[va] mangas e sistema de abotoadura dianteiro em trespasse. A veste exterior, também conhecida por chamarra, chimere, zimarra, garnacha, [era] uma toga de mangões fendidos [ou despojada de mangas], estolas frontais e cabeção dorsal alongado, podendo comportar debruns variados. [...]
Grande parte do seu peculiarismo radicava no formato cónico da sotaina, que era de enfiar pela cabeça. Para que a entrada e saída da cabeça e dos braços ocorresse sem obstáculos, a sotaina alargava muito dos ombros para a meia perna, sendo ajustável no colarinho graças a um dispositivo de cordões semelhante ao do corpete que era aplicado na zona da coluna vertebral."[15]

Em 1772 a Universidade de Coimbra sofreu uma importante reforma (Reforma Pombalina), tendo recebido novos Estatutos. Os Estatutos de 1772 eram, no entanto, incompletos - (re)organizavam as faculdades, mas pouco diziam sobre a organização central da universidade; e por uma Carta Régia de 5 de Novembro de 1779 ficou explícito que os Estatutos Velhos de 1653 continuavam em vigor naquilo em que não tivessem sido revogados. Assim, sobre o enquadramento legal do traje dos estudantes, pouca ou nenhuma novidade. Os novos Estatutos apenas referem que, para se matricular,
"se apresentará cada Estudante em sua própria pessoa, vestido de hábito de Estudante, que seja decente" (Livro II, Título I, Capítulo IV, §39).
Não há normas legais sobre como deveria ser este hábito de estudante, mas existe uma descrição, pouco posterior, dos seus constituintes habituais. Na edição de 1791 da Macarronea Latino-Portuguesa (o conjunto de textos conhecido como Palito Métrico), vem incluída a "Economia Escolástica - segunda parte do Sábio em Mês e Meio", de António Castanha Neto Rua, que acerca do Traje Académico diz entre outras coisas o seguinte:
"Todo o cidadão que se condecora com o título de homem de bem, para decentemente aparecer no meio dos outros, carece para seu adorno externo, [...] enquanto estudante, de Verão, de sete [cousas], vem a ser:- cabeção, volta, camisa, batina, meias, sapatos, e fivelas; e de Inverno, de nove, porque entram calções e colete, que de Verão são inteiramente desnecessários."[16]
Segundo o Diccionario da Lingua Portugueza de António Moraes Silva (2 vols., Lisboa, 1789) "batina" era como o vulgo chamava à abatina, e esta era um "vestido de abade, ou clérigo secular, consta[ndo] de túnica, e capa talar mui fraldada". Quanto a "túnica": "vestidura talar, chegada ao corpo, e por baixo de capa".[17]

Sendo a túnica da batina descrita como talar, ou seja até ao calcanhar, deduz-se que era bastante mais comprida do que a actual batina. O facto de os calções serem dispensáveis sugere o mesmo. No entanto, no caso dos estudantes, é possível que não fosse rigorosamente talar - ou melhor, é natural que fosse um pouco mais curta do que a capa, já que, ainda na "Economia Escolástica", se lê: "Reprovo-lhe meias de seda, pois com o roçar da capa vão-se em dous dias"[18] - o roçar da capa, não da (túnica da) batina.






[1] Ou seja, a a universidade que foi fundada em 1288/1290 em Lisboa, transferida em 1308 para Coimbra, em 1388 de novo para Lisboa, em 1354 outra vez para Coimbra, em 1377 para Lisboa, onde esteve um longo (!) período de 160 anos e que ficou definitivamente instalada em Coimbra a partir de 1537.

[2] Cf. Léo Moulin, A Vida Quotidiana dos Estudantes na Idade Média, Lisboa: Livros do Brasil, 1994, págs. 44-46.

[3] Os primeiros estatutos da Universidade de Coimbra, Arquivo da Universidade de Coimbra, 1991, pág. 16; também citado em Maria Teresa Nobre Veloso, "O Quotidiano da Academia" (in História da Universidade em Portugal, I volume, tomo I, Coimbra: Universidade de Coimbra e Fundação Calouste Gulbenkian, 1997, págs. 129-151), pág. 134.

[4] Em Os primeiros estatutos da Universidade de Coimbra, pág. 17, aparece a seguinte tradução desta passagem, da responsabilidade do Prof. Doutor Monsenhor Cónego José Geraldes Freire, catedrático da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra:
"os mestres e doutores, quando vão para dar as suas lições ou para quaisquer outros actos escolares sigam, segundo o costume da Universidade, com o traje dos mestres ou dos doutores; e os licenciados e bacharéis que leccionarem, com traje honesto, pelo menos talar; e os restantes escolares honestos, ao menos até à meia tíbia".
Não tenho grande competência como tradutor de latim medieval mas, ressalvando a minha ignorância, atrevo-me a achar esta tradução um pouco livre e a usar no texto principal uma outra da minha autoria, feita quando ainda não conhecia esta. Vejo apenas duas diferenças significativas: "per modum universsi" creio poder significar quer "segundo o costume da Universidade" quer "dentro dos limites da universidade", e prefiro a segunda apenas para explicar o "vel" (= ou); "in aparatu in generali sive doctoralli" é mais complicado – traduzir "generali" por "dos mestres" parece-me de facto demasiado livre, pelo menos para os efeitos deste texto. De qualquer forma ficam-me dúvidas sobre esta passagem, que a mim parece indicar que os doutores e mestres podiam usar luxo não académico ("geral") ou, em alternativa, doutoral. Não parece haver quaisquer dúvidas sobre a secção final, que estipula que os licenciados, os bacharéis e os estudantes não graduados deveriam usar roupa sóbria ("honesta"), com os comprimentos indicados.

[5] Os primeiros estatutos da Universidade de Coimbra, pág. 34; também citado em Maria Teresa Nobre Veloso, "O Quotidiano da Academia", pág. 134.

[6] Ordenança pera os estudãtes da universidade de Coymbra, reedição fac-similada comemorativa do IV Centenário do estabelecimento definitivo da Universidade em Coimbra, s.l. [Coimbra?], s.d. [1937?]. Também citado por Manuel Cabral e Rui Marrana, Quid Praxis? (Portucalensis), Porto: Associação de Estudantes da Universidade Católica Portuguesa no Porto, 1982, pág. 52; e por Alberto Sousa Lamy, A Academia de Coimbra 1537-1990, Lisboa: Rei dos Livros, 1990, pág. 649.

[7] Estatutos da Universidade de Coimbra (1653), edição fac-similada, Coimbra: por ordem da Universidade, 1987, pág. 139. Também citado por António Nunes, "Subsídio para o estudo genético-evolutivo do Hábito Talar na Universidade de Coimbra" (in Universidade(s) - História, Memória, Perspectivas, vol.3, Coimbra, 1991, págs. 399-419), pág. 407; e por Alberto Sousa Lamy, A Academia de Coimbra, pág. 649 e seg.

[8] Isto é, os que viviam nos Colégios, espécie de Residências, normalmente pertencentes a ordens clericais.

[9] António de Oliveira, “O Quotidiano da Academia”, (in História da Universidade em Portugal, I volume, tomo II, Coimbra: Universidade de Coimbra e Fundação Calouste Gulbenkian, 1997, págs.617-692), págs. 643-644.

[10] Existiam outras formas de distinção, como o Foro Académico: os universitários (incluindo os funcionários e todos os que trabalhassem para a Universidade) estavam fora da alçada das autoridades comuns. Tinham tribunais, cadeia e mesmo polícia (os verdeais) próprios.

[11] António de Oliveira, “O Quotidiano da Academia”, págs. 642-643.

[12] Lamy, Academia de Coimbra, pág. 653.

[13] António Nunes Ribeiro Sanches, Obras, vol. I, Coimbra: por ordem da Universidade, 1959, pág. 158 (estes "Apontamentos...", datados de Paris, 17 de Julho de 1761, foram publicados originalmente em 1763 junto com o Método para aprender e estudar a Medicina). Esta passagem é também citada por Lamy, Academia de Coimbra, pág. 651. Na Universidade Real (por oposição a eclesiástica) que Ribeiro Sanches propunha, "todos os Magistrados, Lentes, Leitores, Estudantes internos e externos [andariam] vestidos da mesma sorte", com a única diferença de uma insígnia ("uma marca no vestido, como uma meia estola, de cores diferentes") pela qual se distinguiriam; e todas as peças de vestuário e afins seriam de fabrico nacional - Ribeiro Sanches criticava os enormes gastos dos estudantes de Coimbra neste campo, nomeadamente em artigos estrangeiros.

[14] "Loba" aparece no vol. V (1716), pág. 168; "Abbatina" no vol. I (1712), pág. 20.

[15] Cf. as entradas O hábito talar e as insígnias de Bernardino Machado (cont.) - Percursos do Hábito Talar em Coimbra, Porta-Maças da Catedral de Peterborough e Santo Ovídio "Doutor" do blogue Virtual Memories. António Nunes defende que a substituição da loba pela batina no traje dos estudantes de Coimbra se deu apenas depois das reformas liberais de 1834 - e ainda um pouco mais tarde no caso do traje dos doutores. Não estou convencido disso (devido ao testemunho de Ribeiro Sanches e ao que veremos a seguir), mas ressalve-se que: 1 - um relato de um viajante alemão, Heinrich Friedrich Link (1767-1851), que esteve em Coimbra em Maio de 1798, parece de facto descrever o traje dos estudantes e professores como constituído por loba (sem capa?); e 2 - um edital de 1843 utiliza ainda a palavra "lobas".

[16] Palito Métrico e correlativa Macarrónea Latino-Portuguesa, nova edição de harmonia com a quarta, de 1792, Coimbra: Coimbra Editora, 1942, pág. 384.

[17] A loba parece que era já antiquada: "Vestido escolástico antigo, consta de túnica aberta que sobrepõe por diante, sem mangas, e de uma capa talar".

[18] Palito Métrico, pág. 385.

2 comentários:

  1. Caro João:

    fazes uma curiosa referência a uma "abatina".

    "Abbas, Abbatis" é "abade" em latim, donde a palavra "abatina" (de abade). A própria palavra "abbas" significa, como saberás "pai" em hebraico, "pater" em latim.

    Ora aponto aqui uma possível interpretação: "andar à abatina" poderá ser "andar vestido à maneira de abades" italianos ou franceses, segundo a definição do Vocabulário latino-portuguez.

    A peça poderia ser chamada "abatina" pela razão que apontei, por ser identificativa daquela condição. Teria sido muito provavelmente importada do italiano. Mais tarde ter-se-ia dado a aférese do "a" inicial, passando a ser "batina".

    Fica este modesto contributo para uma possível interpretação do termo.

    Mais uma vez, a minha mais profunda admiração pelo teu interessantíssimo trabalho de investigação.

    Eduardo

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  2. Um blogue muito interessante e muito bem documentado, do qual só há pouco tive conhecimento. Parabéns!
    Fiquei seguidor.
    Zé Veloso
    (antigo estudante de Coimbra e do Porto)

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